
Há de ano iniciei este blog e hesitei continuá-lo, desde então.
O que poderei dizer a respeito de um assunto tão sério, de forma a contribuir para sua real e necessária evolução?
Sustentabilidade é um adjetivo substantivado usado da forma mais aviltante que já presenciei em minha existência.
O sistema que aí está faz sistematicamente isso:
Tudo, e absolutamente tudo que pode materializar é mercadoria que virará dinheiro.
Anuncio já que nas próximas postagens poremos o rei nu...
Como escrever algo verdadeiro hoje em dia sem ser chato ou mentiroso é um grande desafio.
A minha primeira lição de vida quando criança é uma história de família, que poucas pessoas vivenciaram, mas que vai resumir o meu pensamento.
Se me permitem, lá vai:
Entrei no Instituto de Educação “Caetano de Campos” aos 4 anos de idade no Jardim de Infância. Meu irmão tinha 6 anos, então.
Quando eu tinha 7 anos de idade, em 1959, fui batizado por meus tios Aracy e Antônio que naquele ano moraram conosco na casa de meus avôs.
Eram 5 primos e meus tios morando no fundo do quintal no que chamávamos quartinho.
Naquele ano de 1959, um dia, meu irmão veio da escola e todo exibido mostrou uma dobradura que aprendeu a fazer. Outro primo resolveu comprar a tal dobradura por 3 palitos. Explico: nossa moeda corrente eram palitos de fósforos usados. Assim, nosso outro primo comprou a dobradura.
No dia seguinte o meu irmão veio com outra dobradura e desta vez nosso primo, xará do meu avô, que estava conosco, viu que o nosso primo menorzinho, de 5 aninhos, deu 5palitos pela dobradura.
No outro dia, nova dobradura e uma disputa para arrematar a dobradura – um origami, se preferirem – que foi adquirida por 10 palitos!
O xará do meu avô era o mais velho dessa leva de netos e contava então com 10 anos e no começo da semana seguinte anunciou que tinha uma dobradura inédita e maravilhosa que jamais alguém vira. Todos nós começamos a disputar. Um disse: eu dou 5 palitos e o outro: eu dou 10 palitos, mas fomos todos preteridos. O primo disse que a dobradura não estava assim disponível e que na sexta-feira após o almoço – que na casa de nossos avôs, significava a impreterível bacalhoada à portuguesa – haveria o grande leilão da dobradura.
Resultado: naquela semana viramos verdadeiros “faróis de milha”isto é, olho voltado para o chão.
Limpamos o quarteirão! Não havia palito de fósforos perdidos, só achados.
Ficamos ricos!
A sexta-feira não chegava nunca, essa foi a sensação de que ainda me lembro.
Mas, afinal, chegou a tão esperada sexta-feira depois do almoço.
Então apareceram várias dobraduras dos concorrentes, mas nenhuma interessava. Todos nós queríamos a tal dobradura inédita.
Meu primo disse que não era assim fácil de aparecer a cobiçada dobradura, que o melhor era fazermos o leilão primeiro. Isso só fez aumentar a expectativa.
Quem dá mais? Perguntou ele, e iniciou a maior disputa que tivemos na infância.
Os lances evoluíram muito rápidos para os mais de 100 palitos! Daí para 200 e o leiloeiro estimulando nossa ambição elevando o valor da dobradura.
Ao final foram mais de quinhentos palitos a oferta do meu irmão que nenhum de nós podia superar.
Então o leiloeiro exigiu o pagamento à vista e, todos nós ajudamos a contar a fortuna. Mal terminávamos de contar e meu irmão exigiu a prenda arrematada.
Está bem, disse o meu primo. Você acaba de adquirir a inédita e maravilhosa dobradura: “Boca de Sapo”!
Passe já pra cá minha dobradura “Boca de Sapo” exige o feliz comprador arrematante que ao longo da semana amealhou a fortuna de mais de 500 palitos! Fruto de seu trabalho árduo...
Calmamente o leiloeiro pega uma folha de papel, tira um pequeno pedaço do tamanho de um quarto de folha, dobra-a mais ou menos ao meio e coloca na boca pela parte da dobra e abre e fecha a boca. Apanha os palitos rapidamente e entrega a encomenda ao felizardo.

Uma brincadeira infantil quase idiota!
Esse primo espertalhão nessa história, infelizmente já faleceu.
O que ficou para mim e o que tem isso a ver com sustentabilidade?
Não percam as próximas postagens.
Eu prometo que não serão “bocas de sapo”, embora muito explicará sobre o assunto.
Até mais!
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